Descubra o impacto da Norma Euro 7 no custo dos pneus em Portugal. Analisamos as emissões de microplásticos, tecnologias e se os pneus ecológicos valem o investimento.

Custo dos Pneus: A Nova Era da Mobilidade e o Impacto das Emissões no seu Bolso?

Descubra o impacto da Norma Euro 7 no custo dos pneus em Portugal. Analisamos as emissões de microplásticos, tecnologias e se os pneus ecológicos valem o investimento.

Os tempos estão a mudar, e a indústria automóvel encontra-se no centro de uma das maiores transformações da sua história. Durante décadas, o foco principal na redução de emissões esteve concentrado nos gases de escape, aqueles que saem diretamente do tubo de escape dos nossos veículos. No entanto, o paradigma está a expandir-se, e uma nova e complexa realidade emerge: as emissões não-provenientes do escape.

Sim, estamos a falar do pó fino libertado pelos travões e, mais surpreendentemente para muitos, dos microplásticos resultantes do desgaste dos pneus. Esta evolução regulatória, liderada pela aguardada norma Euro 7 na Europa, promete revolucionar não só a forma como os carros são concebidos, mas também a sua manutenção, levantando uma questão premente para todos os condutores: será que estas novas exigências vão tornar o custo dos pneus algo significativamente mais elevado?

A resposta não é simples nem imediata, mas uma análise aprofundada das tendências tecnológicas, dos investimentos necessários e das implicações regulatórias sugere que estamos, de facto, à beira de uma recalibração nos preços. A sustentabilidade e a responsabilidade ambiental estão a exigir mais dos fabricantes de pneus, o que, por sua vez, se traduzirá em produtos mais sofisticados e, previsivelmente, mais caros. Contudo, é essencial perceber o que está em jogo, as tecnologias envolvidas e o valor a longo prazo que estas inovações poderão trazer para os consumidores e para o planeta. Acompanhe-nos nesta jornada para desvendar o futuro do custo dos pneus e como as emissões se tornaram um fator determinante.

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A Revolução das Emissões Automóveis: Para Além do Escape

Durante décadas, a batalha contra a poluição automóvel centrou-se predominantemente nos gases que eram expelidos pelos sistemas de escape dos veículos. Desde a introdução dos primeiros catalisadores até aos complexos sistemas de pós-tratamento dos motores a diesel, o objetivo foi sempre o de purificar o ar que respiramos, eliminando ou reduzindo significativamente monóxido de carbono, óxidos de azoto, hidrocarbonetos e partículas. Este esforço global trouxe avanços notáveis na qualidade do ar das nossas cidades, mas à medida que a tecnologia de motores se tornava cada vez mais eficiente, os cientistas e reguladores começaram a voltar a sua atenção para uma fonte de poluição até então subestimada: as emissões não-provenientes do escape.

Estas emissões, frequentemente designadas por “non-exhaust emissions” (NEE), incluem o pó de travão e as partículas de desgaste dos pneus, que, embora invisíveis a olho nu, são uma fonte significativa de micropartículas poluentes. O pó de travão, por exemplo, é composto por metais pesados e outros compostos químicos que se desprendem das pastilhas e discos durante a travagem, sendo facilmente inalado e depositando-se no ambiente.

Os pneus, por sua vez, libertam microplásticos minúsculos no processo de rolamento e fricção com a estrada, partículas que acabam por ser levadas para os rios e oceanos, integrando-se na cadeia alimentar e representando uma ameaça crescente para os ecossistemas e para a saúde humana. A consciência crescente sobre estes poluentes invisíveis está a forçar uma reavaliação completa da pegada ambiental dos veículos, incluindo, e talvez mais pertinentemente, dos seus componentes mais básicos: os pneus.

O Que Traz a Norma Euro 7: Uma Análise Aprofundada

A Norma Euro 7, a mais recente e abrangente legislação de emissões da União Europeia, representa um ponto de viragem decisivo nesta paisagem regulatória. Proposta pela Comissão Europeia, esta norma não só estabelece limites mais rigorosos para as emissões de escape – padronizando um limite único de 60 mg/km para automóveis a gasolina e a gasóleo, o que representa uma redução significativa para os motores a diesel –, como também introduz pela primeira vez a regulamentação das emissões de travões e, crucialmente, dos pneus. Esta é uma alteração monumental, pois significa que até os veículos elétricos e híbridos, que não possuem emissões de escape diretas, serão abrangidos por estas novas regras, dado que também utilizam travões e pneus.

O objetivo da Euro 7 é claro: reduzir as emissões de partículas provenientes dos pneus e travões em cerca de 27%. Para alcançar este objetivo, os fabricantes de pneus enfrentarão um enorme desafio de engenharia e inovação. A implementação da norma será faseada, com os novos tipos de pneus da classe C1 (ligeiros de passageiros) a serem abrangidos a partir de 1 de julho de 2028, seguindo-se os pneus da classe C2 (comerciais ligeiros) a 1 de abril de 2030, e finalmente os pneus da classe C3 (pesados) a 1 de abril de 2032.

Este cronograma concede algum tempo à indústria para adaptar as suas tecnologias e processos de fabrico, mas a pressão para a inovação é imediata e constante. A Euro 7 também impõe que os testes de emissões sejam realizados em condições reais de condução (Real Driving Emissions – RDE), assegurando uma avaliação mais precisa do desempenho ambiental dos veículos e dos seus componentes em situações do dia a dia.

A Tecnologia dos Pneus e a Busca pela Eficiência

A inovação no setor dos pneus tem sido uma constante, impulsionada não só pela segurança e desempenho, mas cada vez mais pela eficiência energética. No centro desta busca está o conceito de resistência ao rolamento, que se refere à força que um pneu precisa de vencer para rolar sobre uma superfície. Em termos mais simples, é o esforço que o veículo tem de fazer para manter os pneus em movimento a uma determinada velocidade.

Quanto menor a resistência ao rolamento, menos energia é dissipada em forma de calor e mais eficiente se torna o pneu. Esta eficiência traduz-se diretamente em menor consumo de combustível para veículos com motor de combustão interna e numa maior autonomia para os veículos elétricos, onde a preservação da energia da bateria é crucial. Estima-se que os pneus sejam responsáveis por cerca de 20% a 30% do consumo total de combustível de um veículo, o que sublinha a importância crítica da sua otimização.

Para reduzir a resistência ao rolamento, os fabricantes de pneus investem em pesquisa e desenvolvimento de novos compostos de borracha e estruturas internas. Os “pneus verdes” ou “ecológicos” são o resultado desta evolução, incorporando materiais inovadores que permitem uma menor deformação da borracha durante o movimento, minimizando a perda de energia. Estes materiais incluem sílica de alta dispersão, polímeros de última geração e, em alguns casos, até mesmo materiais de origem biológica ou reciclada.

O design do piso e a própria construção do pneu também são meticulosamente otimizados para oferecer o equilíbrio ideal entre baixa resistência ao rolamento, aderência em piso molhado (um requisito de segurança vital) e durabilidade. O desafio consiste em alcançar esta eficiência sem comprometer outras características essenciais de segurança e desempenho, um equilíbrio que exige uma engenharia de ponta.

Pneus Ecológicos e a Luta Contra os Microplásticos

A crescente preocupação com o impacto ambiental dos pneus estende-se para além da resistência ao rolamento e do consumo de energia, focando-se agora intensamente na libertação de microplásticos no ambiente. Estes fragmentos minúsculos de borracha, provenientes do desgaste natural dos pneus nas estradas, representam uma fonte significativa de poluição por microplásticos, contribuindo para a contaminação de solos, cursos de água e oceanos.

A União Europeia, através de regulamentações como o Regulamento (UE) 2023/2055 (que altera o REACH, relativo a micropartículas de polímeros sintéticos), já demonstrou o seu compromisso em restringir a adição intencional de microplásticos em vários produtos, e embora os pneus não sejam explicitamente mencionados nestas restrições iniciais de “adição intencional”, a pressão regulatória sobre as emissões de desgaste dos pneus é uma progressão lógica e inevitável, como evidenciado pela Norma Euro 7.

Para combater a emissão de microplásticos, os fabricantes de pneus estão a explorar diversas abordagens. Uma das principais linhas de investigação passa pelo desenvolvimento de compostos de borracha mais resistentes ao desgaste, que libertem menos partículas por quilómetro percorrido. Isto pode implicar a utilização de novos polímeros, cargas mais eficientes (como a sílica) e aditivos que melhorem a integridade estrutural do pneu.

Além disso, a otimização do desenho do piso e dos perfis dos pneus pode ajudar a distribuir as forças de contacto de forma mais uniforme, reduzindo pontos de desgaste excessivo. Outra área emergente é a pesquisa de materiais mais biodegradáveis ou que se degradem em componentes inofensivos no ambiente. Embora ainda em fases iniciais, estas tecnologias representam um investimento substancial e um desafio técnico complexo, visando criar pneus que não só sejam eficientes em termos energéticos, mas também ecologicamente responsáveis, minimizando a sua pegada de microplásticos.

Testes de 15.000 km

Nesse contexto, o Automóvel Clube Alemão (ADAC) realizou uma avaliação aprofundada do problema com base em testes realizados em 160 modelos de pneus – de verão, inverno e para todas as estações. A organização fez diversas recomendações importantes.

A associação realizou os seus testes em condições reais, percorrendo uma distância de aproximadamente 15.000 km, utilizando pneus padrão testados tanto em condições reais (estradas) quanto em pista de teste (rolos). Os diversos parâmetros foram monitorizados continuamente: velocidade, temperatura, pressão dos pneus, aceleração, etc. Os pneus foram pesados ​​antes e depois dos testes para medir com precisão seu desgaste, o que, portanto, é traduzido aqui como perda de peso. O índice de desgaste utilizado é expresso em miligramas por quilómetro e por tonelada de peso do veículo (mg/km/t).

De acordo com o ADAC, a Michelin apresentou o melhor desempenho, com o menor índice de desgaste: 52 mg/km/t. Este é um desempenho forte, mas esperado, visto que a fabricante é conhecida por trabalhar com esses materiais.

A Goodyear (65), Continental (63) e Hankook (62) vieram em seguida. Entre as marcas de qualidade mais acessíveis (as marcas de “qualidade”, que, portanto, não são “premium”), Vredestein e Dunlop (73), Falken (72) e Kumho (70) também tiveram resultados muito satisfatórios. Por outro lado, alguns grandes nomes como Pirelli (76) ou Bridgestone (78) surpreendem com um desgaste maior do que o esperado. A Firestone é a última, com um índice de 82 mg/km/t.

O Impacto Financeiro: Será que o Custo dos Pneus Vai Disparar?

A questão que mais ressoa na mente dos consumidores é, naturalmente, o impacto direto no seu bolso. Com as novas exigências da Norma Euro 7 e o imperativo de desenvolver pneus mais eficientes e com menos emissões de microplásticos, é quase inevitável que o custo dos pneus venha a aumentar. Os investimentos massivos em pesquisa e desenvolvimento, a adaptação das linhas de produção, a utilização de novos materiais e tecnologias mais caras, e a necessidade de testes mais rigorosos para certificação, tudo isto se traduz em custos dos pneus adicionais para os fabricantes.

Embora seja difícil quantificar o aumento exato neste momento, as estimativas iniciais para o impacto da Euro 7 no custo de novos veículos leves variam entre 90€ e 150€, com aumentos significativamente maiores para veículos pesados (até 2.700€). É amplamente esperado que uma parte considerável destes custos seja, em última instância, repassada para o comprador final, tanto na aquisição do veículo novo quanto na substituição dos seus componentes, incluindo os pneus.

Além dos custos de fabrico, existem também os chamados “ecovalores”, ou taxas ambientais, que já são aplicadas a cada pneu vendido para financiar a sua reciclagem e tratamento no final da vida útil. Com o aumento da consciência ambiental e a introdução de regulamentações mais apertadas sobre o ciclo de vida dos produtos, é possível que estes ecovalores venham a ser revistos e aumentados para cobrir os custos crescentes de gestão de resíduos e de promoção de práticas mais sustentáveis na indústria de pneus.

A pressão para a sustentabilidade não é apenas uma questão de custos de fabrico; é também uma questão de responsabilidade ambiental que pode ser refletida em taxas e impostos adicionais, contribuindo para o aumento generalizado do custo dos pneus. Contudo, é importante contextualizar estes aumentos face aos benefícios a longo prazo, que incluem não só um ambiente mais limpo, mas também potencial poupança para o consumidor através de uma maior eficiência.

Analisando o Valor a Longo Prazo: Poupança e Durabilidade

Embora o aumento inicial no custo dos pneus possa ser uma preocupação legítima, é crucial analisar o valor a longo prazo que estes pneus de nova geração podem oferecer. Um dos maiores benefícios dos pneus com baixa resistência ao rolamento é a poupança de combustível, ou no caso dos veículos elétricos, o aumento da autonomia. Como mencionado anteriormente, os pneus podem influenciar até 30% do consumo de energia de um veículo.

Ao optar por pneus mais eficientes, os condutores podem esperar uma redução notável nos seus gastos diários com combustível ou com o carregamento da bateria. Por exemplo, alguns estudos e fabricantes, como a Michelin com os seus pneus PRIMACY, indicam que a poupança em combustível pode ascender a dezenas de euros ao longo da vida útil do pneu (até 80€, por exemplo), e uma redução equivalente nas emissões de CO2 (até 174 kg). Esta poupança, ao longo de vários anos e conjuntos de pneus, pode, em parte, compensar o custo dos pneus inicial mais elevado.

Além da eficiência energética, as novas normas e a investigação em curso visam também melhorar a durabilidade dos pneus, especialmente no que diz respeito à redução das emissões de microplásticos. Pneus mais resistentes ao desgaste, que libertam menos partículas por quilómetro, não só são melhores para o ambiente, como também podem ter uma vida útil mais longa. Embora a Norma Euro 7 imponha requisitos de durabilidade mais estritos para as baterias dos veículos elétricos, esta filosofia de maior longevidade pode ser transposta para outros componentes, incluindo os pneus.

Se os pneus de nova geração durarem mais tempo antes de necessitarem de substituição, o intervalo entre as compras aumenta, diluindo o seu custo anual. Assim, a decisão de compra deve ser ponderada não apenas pelo preço de etiqueta, mas pela equação complexa entre custo inicial, poupança de combustível, durabilidade e o impacto ambiental positivo que estas inovações trazem.

Conclusão: Preparar-se para o Futuro da Mobilidade Sustentável

A introdução de novos padrões de emissões, como a Norma Euro 7, marca um ponto de viragem incontornável na indústria automóvel e, em particular, no segmento dos pneus. Pela primeira vez, os pneus estão no centro das preocupações regulatórias, não apenas pela sua influência na eficiência energética, mas também pelas suas emissões diretas de microplásticos. Esta mudança de paradigma exige que os fabricantes invistam massivamente em novas tecnologias, materiais e processos de fabrico para desenvolver pneus que não só sejam mais eficientes e seguros, mas também significativamente mais amigos do ambiente.

É inegável que esta transição terá um impacto no custo dos pneus. Os preços tendem a aumentar para refletir os investimentos em I&D, os custos de materiais mais avançados e as exigências de testes mais rigorosos. Contudo, é crucial que os consumidores vejam este aumento não apenas como uma despesa adicional, mas como um investimento no futuro.

Pneus com baixa resistência ao rolamento oferecem poupanças significativas de combustível (ou maior autonomia para elétricos), e pneus com menor emissão de microplásticos contribuem para um ambiente mais saudável. O valor a longo prazo, através da eficiência e potencial maior durabilidade, poderá atenuar o impacto inicial do custo dos pneus.

Para se preparar para esta nova era da mobilidade, os consumidores devem estar informados e ser conscientes das suas escolhas. Ao comprar pneus, procure a etiqueta europeia de pneus, que classifica a resistência ao rolamento, a aderência em piso molhado e o ruído exterior, e comece a prestar atenção às informações sobre as emissões de partículas, que se tornarão cada vez mais relevantes.

Mantenha os pneus com a pressão correta, pois isso otimiza a eficiência e a durabilidade. A transição para uma mobilidade mais sustentável é um esforço conjunto, e os pneus, embora muitas vezes esquecidos, são um elemento crucial nesta jornada. Adaptarmo-nos a esta realidade não é apenas uma questão de cumprir regulamentos, mas de abraçar um futuro mais limpo e eficiente para todos.


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Carlos Paulo Veiga

Carlos Paulo Veiga

Apaixonado por automóveis, sobretudo a sua essência técnica. Espero ajudar com a partilha de conhecimento.

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